Por que as pessoas não compreendem o que eu falo?

Se você já se fez essa pergunta é porque deve ter passado por diversas situações em que alguém lhe disse "você pode repetir o que disse?" ou "não entendi o que você quis dizer".

Quando explicamos algo para alguém e não somos compreendidos, é comum pensarmos que o outro está com algum problema, afinal, na nossa mente está tudo muito claro. Muitas vezes presenciamos alguém irritado porque o outro não consegue entender o que está sendo dito. “Mas é tão óbvio e você ainda não entendeu?” – reagem aqueles que se sentem incompreendidos.

Só que, entre aquilo que está claro para nós e o que o outro compreende, há um longo caminho. É nesse trajeto que muitas informações se perdem e, por chegarem incompletas ou distorcidas, dificultam o entendimento daqueles que nos ouvem. Precisamos compreender, portanto, que cada pessoa tem um jeito de organizar o conteúdo na sua mente e de expressá-lo.

Imagine que você está andando pela calçada a procura de uma loja que nunca foi antes. Você lembra apenas do nome da rua e não do número do estabelecimento, então se aproxima de um ponto de ônibus onde tem diversas pessoas e lhe ocorre de perguntar se alguém sabe onde fica a loja que você está procurando. Duas pessoas informam que sim, então uma começa a falar e logo pergunta se você sabe onde fica a farmácia x, pois a loja fica bem em frente. Já a outra pessoa explica que a loja fica a duas quadras dali, basta ir até a esquina e virar a direita. O que podemos perceber a partir dessa situação? Que as explicações daquelas pessoas são totalmente diferentes para uma mesma pergunta – e uma pergunta bem específica, não é mesmo?! Há alguma resposta errada? Absolutamente não. São apenas maneiras diferentes de perceber e interagir com a realidade, porém, uma resposta pode levar você ao lugar desejado rapidamente, e outra pode fazer com que você leve mais tempo para que chegue lá. Se tivesse mais algumas respostas na parada de ônibus, talvez algumas delas deixariam você mais confusa sobre como chegar na loja. Esse é um bom exercício para se colocar no lugar do outro e perceber o quão claro você é quando lhe perguntam algo.

Você ainda não entendeu?

Somos seres peculiares, temos histórias de vida diferentes e cada um de nós encontrou uma maneira de assimilar e transmitir informações. As pessoas que utilizam predominantemente o sistema representacional visual, ou seja, que organizam e constroem as informações através de imagens, estão geralmente “olhando” para alguma cena internamente enquanto explicam algo. Como uma imagem é repleta de detalhes, é preciso muito mais tempo para traduzir todos esses detalhes através da fala. Por isso que, muitas vezes, aqueles que são mais visuais deixam palavras de fora, atropelam a informação porque a sua fala não acompanha a velocidade com que as imagens se formam em sua mente.

Só neste ponto já é possível compreender porque pessoas com um sistema predominantemente auditivo, por exemplo, sentem dificuldade de compreender o que alguém mais visual diz. Ora, se um auditivo entende mais facilmente através das palavras que ouve e o visual deixa de fora detalhes importantes nas suas explicações, já que não traduz tudo aquilo que está vendo em sua mente, então pode haver uma lacuna na comunicação entre essas pessoas.

Você está percebendo como temos maneiras diferentes de compreensão?Experimente explicar a uma pessoa que não enxerga, por exemplo, o que você vê em um determinado cartaz de filme. Não adianta apenas dizer o nome se você quer que ela perceba qual a atmosfera do filme. Há muito mais informações além do título que revelam se ele é um drama ou comédia, como as cores, o estilo do texto, a expressão do personagem etc. Tudo aquilo que não dizemos, nesse caso, pode abrir espaço para que a pessoa com quem estamos conversando entenda como ela quiser. Então, quando ousarmos dizer que o outro está com dificuldade de compreender o que falamos, temos que olhar, primeiramente, para a nossa maneira de comunicar. Há um pressuposto na Programação Neurolinguística que diz:

O significado da comunicação não é simplesmente aquilo que você pretende, mas também a resposta que obtém

Isso significa que, se a pessoa com quem interagimos não entendeu o que dissemos, ou seja, se ela deu uma resposta diferente daquela que queríamos, é preciso mudar a nossa maneira de comunicar – e não cobrar o outro por isso. Assim, comece a prestar a atenção em como você diz as coisas, se você está deixando de fora aspectos importantes ou palavras essenciais para que a informação seja compreendida – principalmente quando alguém revelar que não entendeu o que você disse.

Identificar quais canais as pessoas mais usam para se comunicar, seja visual, auditivo ou cinestésico, já nos fornece boas pistas de como podemos saber se as pessoas estão nos entendendo – aprendemos isso em treinamentos e consultorias de comunicação. Mas lembre-se: para que sejamos compreendidos, além de treinar habilidades, é preciso atenção e gentileza conosco e com o outro. A boa comunicação tem raízes na empatia!